Pré- historia do acre
O povoamento humano do Acre provavelmente começa entre 20.000 e 12.000 anos atrás, quando os primeiros grupos humanos provenientes da Ásia chegaram de sua longa migração até a América do Sul. Esses grupos humanos perseguiam as grandes manadas de animais gregários que durante a idade do gelo se espalhavam pelas vastas savanas do mundo. A Amazônia era então uma ampla extensão dessas savanas, com apenas algumas manchas de floresta ao longo dos rios que cortavam as terras baixas.
Era o tempo dos grandes animais como o mastodonte, a preguiça gigante (megatherium), o toxodonte e diversos outros exemplares de megafauna que serviam de base alimentar para aqueles bandos de caçadores nômades. Esses animais se extinguiram com o fim do pleistoceno, a ultima das grandes idades do gelo, e seus fósseis são localizados ainda hoje nos barrancos de muitos dos rios acreanos. Apesar de ainda não terem sido encontrados vestígios concretos da presença humana na região durante esse mesmo período, podemos imaginar que o homem aqui já estivesse, junto com os animais que caçava.
Com o passar do tempo, a partir de 12.000 anos atrás, o clima do planeta começou a esquentar. Isso ocasionou um aumento da umidade e expansão dos sistemas florestais. Enquanto os últimos remanescentes da megafauna desapareciam por causa da retração das áreas de pastagem, a floresta se expandia. Isso favoreceu a proliferação de uma fauna terrestre de pequeno porte e da fauna aquática através do crescimento dos cursos d’água que ficaram cada vez mais caudalosos.
Esse tempo de profundas mudanças climáticas e ambientais deu oportunidade para o surgimento de novas formas de organização social. Os grupos humanos pré-históricos da América passaram a contar com recursos alimentares mais diversificados, graças ao ambiente de florestas tropicais, e lentamente começaram a desenvolver as primeiras experiências de domesticação de plantas e animais. Enquanto na América Central e nos Andes teve inicio o cultivo do milho e de outras sementes, nas terras baixas da Amazônia ocorriam as primeiras experiências do plantio de raízes - especialmente da mandioca - que se tornariam a base alimentar desses grupos.
A Amazônia sul - ocidental é habitada há milhares de anos por diferentes povos nativos que fizeram da grande região dos altos rios acreanos o seu território de viver, sonhar e cultivar raízes. Muitos desses povos foram engolidos pela floresta imensa sem deixar vestígios de sua passagem pela terra. Outros enfrentaram inimigos poderosos mas resistiram o suficiente para ainda saber quem são. Porém, esses povos milenares permanecem ainda hoje, em grande parte, desconhecidos da maioria da sociedade acreana. É preciso perceber que nossa história guarda muita das marcas que foram escritas precisamente por estes povos.
A ocupação indígena dos altos rios Purus e Juruá correspondia a uma divisão territorial entre dois grandes grupos lingüísticos que apresentavam significativas diferenças. No Purus havia o predomínio, mas não a exclusividade, de grupos falantes das línguas Aruan e Aruak, do mesmo tronco lingüístico. Já no vale do Juruá havia o predomínio, também não exclusivo, de grupos falantes da língua Pano. Essa divisão territorial por vales entre grupos lingüísticos dominantes parece ter sido semelhante àquela que os arqueólogos detectaram através das tradições Quinari e Acuriá. Mas o registro histórico e lingüístico apontou que além dessa divisão aparentemente simples, havia também grupos falantes da língua Katuquina nos afluentes situados entre o médio Purus e o médio Juruá, ao norte do atual estado do Acre, já em terras do Amazonas
Povos indígenas do acre
Podemos dizer que esses povos indígenas estavam distribuídos em cinco grandes grupos:
1 - No médio curso do Rio Purus, hoje estado do Amazonas, habitava povos de lingua Aruan, do tronco Aruak. Grupos pouco aguerridos eram comumente submetidos por outros grupos mais fortes ou se refugiavam na terra firme, espalhando-se por diversos afluentes de ambas as margens do médio Purus.
2 - No alto curso do rio Purus e no baixo rio Acre estavam estabelecidas diversas tribos do tronco lingüístico Aruak. Subindo esses rios, do norte para o sul, habitavam os Apurinã, os Manchineri, os Kulina, os Canamari, os Piros, os Ashaninka e outros. Na verdade, estes grupos se espalhavam desde a confluência do Pauini com o Purus até a região das encostas orientais dos Andes, desde aproximadamente 5.000 anos atrás. E chama a atenção como puderam se manter por tanto tempo no domínio de uma região tão vasta e tão rica ecologicamente. A pré-história registra que muito antes de resistir ao avanço dos homens brancos sobre suas terras, os Aruak ou Antis, como eram chamados pelos Incas, já haviam resistido com sucesso à chegada dos falantes da língua Pano e a expansão das civilizações andinas.
3 - No alto curso do rio Acre, alto Iquiri, Abunã e outros afluentes do rio Madeira já em território boliviano, havia um enclave de grupos falantes de lingua Takana e Pano. Alguns bastante aguerridos, como os temidos Pacaguara, outros mais sociáveis como os Kaxarari que mantinham ativo contato com os Apurinã, apesar das diferenças lingüísticas e culturais entre os dois grupos. Mesmo pertencendo ao tronco lingüístico Pano, a língua Takana é de origem mais recente, tendo surgido entre 3.000 e 2.000 anos atrás.
4 - Na região intermediária entre o médio curso do Purus e o Juruá, ao norte do Acre, habitavam os falantes da língua Katukina, sobre os quais se tem pouca informação. Algumas características destes grupos apontam para um surgimento relativamente recente, há cerca de 2.000 anos. Esses grupos pouco numerosos ficavam apertados entre os povos Aruak ao leste e os Pano a oeste, restando a eles a exploração das terras firmes, menos ricas em suprimento alimentar que as margens dos grandes rios.
5 - Boa parte do médio e alto curso do rio Juruá, bem como a maior parte de seus afluentes - como o Tarauacá, o Muru, o Envira, o Moa e daí por diante - era dominado por diversos e numerosos grupos de falantes da língua Pano. Eram Kaxinawá, Jaminawá, Amahuaca, Arara, Rununawá, Xixinawá e muitas outras denominações tribais. Todos fazendo parte de um tronco lingüistico muito antigo, com cerca de 5.000 anos, mas que teria se originado em outra região, invadindo só mais recentemente as terras acreanas. Com seu caráter guerreiro, os Panos conquistaram seu território através da guerra contra tribos de outras línguas, mas também contra grupos do mesmo tronco. Isso explica, em parte, a grande fragmentação que as muitas tribos Pano apresentavam quando finalmente os brancos começaram a chegar na região.
Mesmo com tantas histórias de conflitos, durante os milhares de anos em que as aldeias foram compostas por grandes malocas coletivas, o povo vivia do que lhes dava a floresta e se podia fazer grandes festas por ocasião da colheita estabelecendo um sutil equilíbrio econômico, ecológico e social na região. Ao se iniciar o século XIX, cada grupo familiar ou tribal possuía territórios claramente definidos e os relacionamentos entre esses grupos obedeciam não só às semelhanças étnicas e culturais, mas também às alianças que foram sendo estabelecidas ao longo do tempo. A população indígena da Amazônia é dividida em 6 troncos lingüisticos: Tupi, Karib, Tukano, Jê, Pano e Aruaque. As tribos habitantes do Acre são principalmente dos troncos Pano e Aruaque.
TRONCOS LINGÜÍSTICOS
- No Acre, os indígenas estão divididos em dois grandes troncos indígenas: a) Aruaque ou Aruak, que dominavam a bacia do Rio Purus; b) Panos, que dominavam a região do rio Juruá.
- Os Panos eram divididos em Kaxinawás, Yawanawás, Poyanawás, Jaminawas, Nukinis, Araras, Katukinas, Shaneanawa, Nawas, e Kaxararis.
- Os Aruaques eram divididos em Kulinas, Ashaninkas (Kampas) e Manchibery.
OBS: alguns estudiosos já dividem-no em três grupos: pano, aruak e arawá.
· - Os índios dedicavam-se à pesca, à caça e a guerra. As índias contribuíam no trabalho agrícola e na fabricação de cerâmicas.
· - Os povos indígenas da Amazônia eram todos agricultores. A terra pertencia a todos.
· - O trabalho de toda a tribo poderia ser concluído em 3 ou 4 horas.
· - Toda a produção era para sustentar toda a aldeia.
· - O arco e a flecha foram a principal arma utilizada pelos nativos da região.
· - Durante o 1° Ciclo da Borracha, os índios participaram como "mateiros" e guias em busca de novos locais de exploração da borracha.
· - Com a primeira grande crise da empresa extrativa a partir de 1912, a mão-de-obra indígena substitui, em grande parte, a de seringueiros nordestinos.
· - Aos poucos, foram integrados à economia extrativa, tornando-se dependentes dos bens aviados pelo barracão, embora nunca tenham deixado à pesca e à caça.
· - Nos séculos XVI e XVII, era costume o comércio do excedente de produção entre as tribos indígenas. Para o indígena, a seringueira não era uma árvore dotada de valor especial.
Vejamos a historia do acre por década
Acre_ Existem controvérsias sobre a origem do nome. Segundo alguns autores regionais, estaria ligado ao nome indígena wakuru, que era como a tribo apurinã chamava o atual rio Acre. Com a chegada dos exploradores à região, o nome foi se corrompendo em iquiri, aquiri, acri, até chegar ao termo Acre, seu topônimo atual.
1750_ Com o Tratado de Madri que estabelecia o principio do Uti possidetis, herança ainda do Tratado de Tordesilhas. Esta cláusula beneficiava de forma preponderante os interesses de luso-brasileiros em detrimento aos dos espanhóis, que o aceitam em troca do controle da Bacia do rio da Prata, região de maior interesse econômico à época. Com isto, Portugal legalizou seu avanço sobre os territórios espanhóis para a região amazônica; começa ai o processo de ocupação da Amazônia; o Tratado de Madri definia a fronteira entre o Brasil e a Bolívia. Entretanto, o cônsul brasileiro na Bolívia, Regino Correa, conhecendo a paixão do presidente Melgarejo por cavalos, antes mesmo de iniciar as negociações, o condecorou com uma medalha e lhe deu de presente um casal de lindos cavalos brancos de raça. Após o descobrimento da América e do Brasil, a Espanha e Portugal ajustaram as suas desavenças territoriais no Novo Mundo, com a unção papal, com a linha Norte-Sul do Tratado de Tordesilhas. Por este tratado, como se sabe, o Brasil era constituído de menos da metade das terras que hoje possui. A região do Acre estava completamente fora das terras então dominadas pelos portugueses.
Foi graças às incursões dos bandeirantes à procura de metais e pedras preciosas e à captura de índios que os brasileiros empurraram a fronteira estabelecida para oeste.
Fenômeno idêntico também se passou ao norte do país. Também foi a migração interna brasileira que ao povoar as terras não descobertas do extremo oeste marcou a presença do Brasil naquelas regiões. Este deslocamento de brasileiros não despertou a mesma consideração dada aos bandeirantes pela nação brasileira. A Amazônia não despertava grande interesse por parte da Espanha. Os primitivos habitantes do Acre foram os índios (amoaca, arara, canamari e ipuriná).
1839 _Com a descoberta do processo de vulcanização por Charles Goodyear, a borracha natural passou a ser fundamental na produção de vários artefatos engendrados pelo processo de industrialização do final do século XIX, principalmente os de aplicação na então nascente indústria automobilística. Começa ai um interesse na seringueira da Amazônia,
1850_ Até 1850, a região do Acre era considerada pela Espanha como “Tierras no Discubiertas”. A partir de 1860 expedições exploratórias descobriram o potencial da borracha, viabilizada por força da Revolução Industrial, em curso na Europa.
1860_ A partir deste ano, começaram a acontecer às primeiras viagens de exploração, se constatou não só a presença indígena, mas a grande riqueza natural dos rios acreanos, despertando a cobiça dos exploradores.
1867_ O governo imperial brasileiro reconhece o direito boliviano à posse da região do Acre. A linha de fronteira, entretanto, nunca foi demarcada. Mas no dia 27/04 do mesmo ano foi firmado entre a Bolívia e o Brasil o Tratado de Ayacucho para delimitar as fronteiras entre os dois países. Devido à presença de brasileiros nas bacias dos rios Madeira, Purus e Juruá, o Brasil consegue empurrar os seus limites fronteiriços até a nascente do rio Javari. Como na época da assinatura do tratado não se sabia exatamente onde nascia o rio Javari, surge desta indefinição a chamada “Questão acreana”, embora o Brasil reconhecesse esta região como formalmente boliviana.
1870_ Tinham início uma verdadeira corrida do ouro que fez com que em poucos anos os rios acreanos fossem tomados de assalto. Milhares de homens vindos de todas as partes do Brasil e do mundo passaram a subir os rios estabelecendo imensos seringais em suas margens. Era a febre provocada pelo ouro negro, a borracha extraída da seringueira que depois de defumada era exportada para abastecer as indústrias européias e norte-americanas, cada vez mais ávidas por esse produto.
1877_ Este ano datam os primeiros marcos de civilização efetiva ocorrida no Acre, chegavam os primeiros nordestinos, fugidos da seca e em busca de uma economia a borracha,a região acreana, dando inicio a abertura de seringais. . A partir dessa época, no entanto, a região tornou-se ativa frente pioneira, que avançou pelas três vias hidrográficas existentes: o Rio Acre, o Alto - Purus e o Alto – Juruá, no ano seguinte a empresa seringalista alcançava a boca do rio Acre subjugando todo o médio Purus. Nesse período ate hoje, atirou em sucessivas levas, as populações sertanejas do território entre a Paraíba e o Ceará para aquele recanto da Amazônia. Em menos de 30 anos, o estado, que era uma vaga expressão geográfica, definiu-se de chofre, avantajando-se aos primeiros pontos do nosso desenvolvimento econômico. A sua capital transformou-se na metrópole da maior navegação fluvial da América do Sul. E naquele extremo sudoeste amazônico cem mil sertanejos apareciam inesperadamente e repatriavam-se de um modo original e heróico: dilatando a pátria até aos terrenos novos que tinham desvendado.
1880_ Para a Bolívia, proprietária do espaço, ali era uma terra não-descoberta. Segundo o diretor do Departamento de Patrimônio Histórico e Cultural do Estado do Acre, Marcos Vinicius Neves, a área servia de refúgio para todos. Havia brasileiros fugidos da seca no Ceará, da Guerra de Canudos, da Revolução Federalista do Rio Grande do Sul e até sírios e libaneses que escaparam dos turcos. As disputas pela posse do território começaram, a Amazônia era responsável por 100% da borracha usada pela nascente indústria automobilística internacional. As seringueiras localizadas no Acre produziam 60% desse total. Nesse período ultrapassavam-se a linha Cunha Gomes, limite terminal das fronteiras legais brasileiras. Ao mesmo tempo os caucheiros peruanos vindos do sudoeste cortavam a região das cabeceiras do Juruá e do Purus, enquanto que os primeiros seringalistas bolivianos começavam a se expandir pelo vale do Madre de Dios e invadiam as terras acreanas pelo sul. Em poucos anos, os povos nativos da região se viram cercados por brasileiros, peruanos e bolivianos, sem ter para onde fugir ou como resistir à enorme pressão que vinha do capitalismo internacional que dependia da borracha amazônica. De senhores desta terra os povos nativos da Amazônia sul - ocidental passaram a ser vistos como obstáculos a exploração da borracha e do caucho na região. Foi quando surgiu a prática das correrias: expedições armadas feitas com o objetivo de matar as lideranças das aldeias, aprisionarem homens para o trabalho escravo e obter mulheres que seriam vendidas aos seringueiros. Foi um tempo de terror. São muitos os relatos de correrias quando, depois de queimadas as malocas e mortos os principais guerreiros, os vencedores se divertiam jogando as crianças para cima e aparando-as com a ponta do punhal numa demonstração cruel de habilidade no manejo das armas. Como se isso não bastasse, junto com os brancos chegaram também muitas doenças contra as quais os índios não possuíam resistência. O sarampo, a gripe, a tuberculose e outras doenças rapidamente se alastraram entre os grupos indígenas da região dizimando aldeias inteiras diante dos pajés que não sabiam como curar aquelas moléstias desconhecidas. Ainda assim a reação dos diferentes grupos indígenas acreanos a chegada dos não-índios foi tão variada como eram diversificadas as culturas aqui presentes. Uma boa parte das tribos de lingua Aruan e Aruak, como os Jamamadi, Apurinã, Manchineri e Ashaninka decidiram colaborar em certa medida com os brancos. Muitos índios tornaram-se remadores, guias, mateiros, seringueiros. Algumas aldeias passaram a se relacionar com seringais negociando os produtos da caça ou de sua lavoura em troca de ferramentas, armas e objetos dos brancos.
Por outro lado, os grupos de língua Pano, em linhas gerais, resistiram à invasão de seus territórios ancestrais, evitando contatos ou relações de qualquer espécie com os brancos. O resultado imediato foi à perseguição e o extermínio de todos os grupos que dificultavam a abertura dos seringais ou a extração do caucho. A perseguição promovida contra os índios foi intensa e certos grupos começaram a esconder sua identidade, como um pequeno grupo de Jaminawá que passou a se dizer Katukina para evitar a perseguição. Essa dura realidade de confrontos perdurou pelos primeiros trinta anos da ocupação não-índia da região. Em trinta anos o ritmo da exploração da região só aumentou levando ao extermínio de inúmeros grupos indígenas. Como os Canamari que desapareceram da grande floresta, ou os Takana que migraram para o sul até a Bolívia para nunca mais retornar ao território acreano, ou ainda os Apurinã que tiveram seus vastos domínios reduzidos a ponto de não possuírem hoje nenhuma terra indígena demarcada no estado do Acre, parte de seu território ancestral.
1889_ Galvez chega ao acre
1895_ Uma Comissão Demarcatória chefiada pelo Cel. Thaumaturgo de Azevedo mostrou quanto o Tratado de Ayacucho era desinteressante para o Brasil. Rechaçado pelo Governo Brasileiro criou-se a polêmica na imprensa. O Governo Brasileiro nomeia então o capitão-tenente Cunha Gomes que, no entanto, reconheceu os limites estabelecidos pelo Tratado. O traçado demarcatório que separa, ainda hoje, o Acre do Amazonas é conhecido como a linha Cunha Gomes. A Bolívia, para marcar sua presença, criou uma Delegação Nacional em Xapuri, cidade perto da fronteira, combatida pelos brasileiros.
1898_ A Bolívia instala postos alfandegários na região, juridicamente boliviana, mas ocupada por brasileiros. Em seguida, enviam uma delegação militar à região, expulsa três semanas depois pelos brasileiros.
1899_ A Bolívia, por sua vez, reage à ação dos brasileiros e manda para a região um ministro plenipotenciário, Dom José Paravicini, que criou a cidade de Puerto Alonso. Paravicini decretou a abertura dos rios amazônicos à navegação internacional e começou a arrecadar impostos que antes iam para o Estado do Amazonas. Os impostos cobrados no posto chegavam a 40% sobre o preço do produto. Os seringalistas não tinham como arcar com os novos gastos, em vista disso se reuniram com os governos do Pará e do Amazonas, e os bolivianos passaram a arrecadar menos, por outro lado os governos tiveram de arcar com o prejuízo. O governo do Amazonas começou a financiar seringalistas, e contratou líderes que organizassem revoltas contra os bolivianos, em Manaus eram realizadas manifestações populares contra o que consideravam usurpação estrangeira aos direitos brasileiros sobre o rico território da borracha, os seringalistas expulsam as autoridades bolivianas de Porto Alonso. A primeira insurreição foi liderada por José Carvalho, em 10 de maio, e deu início ao processo que levaria à Revolução Acreana. Neste mesmo ano era formada a junta revolucionária brasileira destinada a resistir à invasão de tropas da Bolívia. Nesse mesmo momento, chegou à região, vindo do Amazonas, o jornalista espanhol Luiz Galvez, o "Imperador do Acre". Galvez, para alguns um aventureiro, para outros um herói, proclamou um Estado independente em 14 de julho, para qual se autonomeia presidente - data proposital para homenagear a queda da Bastilha, momento-chave da Revolução Francesa. Galvez passou a se envolver com a questão da borracha quando denunciou o acordo que vinha sendo costurado entre o governo boliviano e o Anglo-Bolivian Syndicate, de Nova York, para controlar a extração do látex. O modelo de negócio dava à empresa poderes soberanos para controlar a produção, a exportação, os impostos e até a polícia local. Firmado o acordo, os EUA teriam plenos poderes no território boliviano, povoado por brasileiros. . Na manhã daqueles 14 de julho, representando a Junta Revolucionária do Acre, Galvez aprovou com a população local atas para dar início ao governo independente do Acre. A animação do espanhol conquistou os presentes, que finalizaram o encontro histórico com uma salva de palmas. Em dezembro, o governo de Galvez lutava para manter sua unidade no Alto Acre, ao conseguir apoio local, Galvez reagiu aos boatos de deslocamentos de tropas bolivianas em direção à área e às pressões que lhe chegavam do governo federal brasileiro e dos comerciantes de Manaus e Belém e proibiu a exportação da borracha acumulada nos seringais, A República do Acre dura menos de um ano, duramente atacada por forças bolivianas. Os comerciantes revoltaram-se e, em 28 de dezembro aclamaram o capitão Antônio de Sousa Braga, grande proprietário local, o novo presidente do estado. A primeira providência de Braga foi mandar prender Galvez. Na pele de presidente, Sousa Braga enfrentou e expulsou as forças bolivianas que tentavam reconquistar Puerto Alonso.
1900_. Galvez e reconduzido ao cargo em 30 de janeiro. Os sucessos do Acre ganhavam a imprensa e inquietavam o mercado internacional, que temia diminuição no fornecimento de borracha. Dócil aos interesses estrangeiros, o governo brasileiro enviou uma embarcação da marinha para acabar com a República do Acre e devolver a região à Bolívia. Doente, Galvez aceitou a imposição brasileira. Em 15 de março, assinou a ata de rendição. o governo brasileiro interviria para restabelecer os direitos legais dos bolivianos sobre o Acre. No embate entre as forças do Governo boliviano e do Governo do Amazonas, a história conta a formação de uma expedição armada, que levou o nome de Floriano Peixoto, mais conhecida como a expedição dos poetas. Composta de boêmios, profissionais liberais e intelectuais de Manaus, sem nenhuma experiência militar, fracassou em combate em 29 de dezembro em Puerto Alonzo.
1901_Governo boliviano arrenda o território do Acre ao Bolivian Syndicate, companhia colonial de capital americano, inglês e alemão. A empresa é encarregada de explorar a borracha da região e manter a ordem. Um expediente boliviano foi usar os interesses estrangeiros para conter a invasão brasileira à região. Foi assinado em 11 de julho entre bolivianos, americanos e ingleses para vigorar a partir de 02.04.1902, o famoso Bolivian Syndicate, com poderes ilimitados sobre a região para a exploração da borracha. Tratava-se de uma ameaça inconteste à soberania brasileira e boliviana. Mas a esses era o recurso que lhes restava. Um conglomerado anglo-americano com capital de 500 mil libras esterlinas, sediado na cidade de Nova York, que tinha como diretor Martin Conway. Entre os acionistas dessa chartered company encontrava-se até um sobrinho do presidente americano Franklin Roosevelt, e a famosa firma Vanderbilt.
1902_O Bolivian Syndicate instala-se no Acre. Em resposta, a população brasileira da região promove novo levante armado, chefiado pelo gaúcho Plácido de Castro. O processo de ocupação da terra era completamente irregular. Os exploradores subiam os rios e habitavam áreas vazias. Plácido de Castro, outro herói do Acre, foi contratado pelos seringalistas para prestar serviços de agrimensor. Ex-militar, o gaúcho Plácido havia participado das forças federalistas no Sul. Chegado ao Norte e apoiado pelo governo do Amazonas, organizou um exército de seringueiros e seringalistas para, diferentemente de Galvez, conquistar o território acreano para o Brasil. Um conflito que começou em agosto e terminou seis meses depois em Puerto Alonso, com 500 mortos, em uma população de 10 mil indivíduos. No dia 06 de agosto plácido de castro toma xapuri. Surpreendendo o intendente boliviano com o seguinte enunciado: "Não é festa, é revolução!". Era o início da quarta Revolução Acreana. O dia 6 de junho é considerado o início da Revolução Acreana. Em outubro, as tropas bolivianas capitulam diante das forças rebeldes. No final do ano, o barão do Rio Branco é nomeado ministro das Relações Exteriores e o governo passa a considerar seriamente a incorporação da região conflagrada como possibilidade concreta. Com a nomeação do Barão do Rio Branco para o Ministério das Relações Exteriores, em dezembro de 1902, o ex-embaixador na Alemanha passou a articular de maneira mais incisiva uma solução diplomática para a “Questão acreana” è a ruptura do contrato com a companhia internacional.
Graças ao comércio da borracha, Xapuri era uma cidade opulenta, onde se podiam comprar tecidos finos como a seda e ir ao cinema. Tratava-se de um mercado promissor, afirma Albuquerque. A revolta de Plácido termina com um acordo diplomático, comandado pelo barão do Rio Branco.
1903_ Plácido de Castro toma Porto Alonso em janeiro, após violentos combates. Bolivianos esperam uma intervenção americana em defesa do Bolivian Syndicate, mas o governo dos Estados Unidos descarta a idéia. Embora pertença à Bolívia, o Acre na realidade já é brasileiro. O barão do Rio Branco oferece indenização de 114 mil libras esterlinas ao Bolivian Syndicate, que se retira do país. A Bolívia volta a dialogar com o governo brasileiro e, em novembro ambos os países assinam o Tratado de Petrópolis. Tratado de Petrópolis foi assinado, e o Acre anexado ao Brasil em troca de áreas no Mato Grosso, o pagamento de 2 milhões de libras esterlinas e a promessa de construir a estrada de ferro Madeira-Mamoré para auxiliar o escoamento das exportações bolivianas. A Bolívia, por sua vez, renuncia aos direitos sobre o Acre, que passa a integrar definitivamente o território brasileiro. Começava uma nova etapa de lutas na sociedade acreana, agora contra o governo brasileiro, que retirava somas fabulosas com a exportação da borracha, mas pouco revertia em investimentos locais. Não havia escolas, hospitais ou quaisquer outras estruturas públicas.
1909_ A Inglaterra começou a produzir borracha na malásia, nascia uma ameaça de mercado competidor para o Brasil.
1912_ Houve a maior produção de borracha no Brasil. Desde então, a Ásia começou a colocar no mercado a borracha vegetal cultivada - deflagrando uma competição desigual com a borracha brasileira, que era nativa. A procura pelo produto brasileiro despencou no mercado internacional. Segundo a antropóloga e doutora em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília Mary Allegretti, nenhuma iniciativa de cultivo de borracha na Amazônia teve sucesso.
1913_Fim do primeiro ciclo da borracha. Diante dessa nova realidade, com grandes e poderosos seringais espalhados por todos os principais rios, nunca mais seria possível retomar as antigas formas de organização social. Alguns pequenos grupos ainda conseguiram se refugiar nas cabeceiras mais isoladas, mas a grande maioria dos índios do Acre foi obrigada a se modificar para não desaparecer. Passaram a adotar então o modelo de casa cabocla que o branco utilizava, começaram a depender das ferramentas dos brancos, foram perdendo suas línguas maternas e aprendendo o português ou o espanhol.
A acentuada queda nos preços internacionais da borracha fez com que ficasse cada vez mais difícil trazer nordestinos para o corte da seringa. O gradativo esvaziamento dos seringais da região levou a necessidade cada vez maior do aproveitamento dos índios como mão de obra. Muitos foram os patrões que reuniram grupos dispersos de diversas etnias para trabalharem em seus seringais. Alguns desses patrões chegaram a ser reconhecidos como amigos dos índios, como Ângelo Ferreira, famoso amansador de índios, que reuniu muitos Kaxinawá, Jaminawá e Kulina, entre outros para trabalhar sob suas ordens. Mas a maioria dos patrões tratava os índios ainda pior do que os seringueiros. Afinal de contas, como não sabiam ler e pouco entendia da língua dos brancos, os índios eram enganados no peso da borracha, no preço da mercadoria, na desvalorização de seus produtos, no pagamento da renda anual da estrada de seringa. Com isso os índios acumulavam enormes dívidas com os barracões dos seringais e acabavam se tornando prisioneiros de seus patrões.
1920_ Nesse período a administração do Acre foi unificada e passou a ser exercida por um Governador, nomeado pelo Presidente da República.
1944_ Nasce Francisco Alves Mendes Filho (Chico Mendes ), o homem que traçaria mais uma vez a historia do Acre
1961_ O então presidente João Goulart assina um acordo entre o Brasil e o Banco Mundial para o financiamento da construção da Br-364, ligando Cuiabá a Porto Velho.
1962_ No dia 15 de junho o Acre torna-se estado por força da lei n° 4.070 assinado pelo então presidente João Goulart. Em outubro é eleito o primeiro governador do Estado do Acre o Senhor José Augusto de Araújo.
1966- Neste ano Jorge kalume assume a diretoria financeira do banco da Amazônia (BASA) gerando projetos, planos e linhas de créditos que financiavam empreendimentos com serrarias, fazendas e assentamentos dirigidos pelos governos estaduais dos estados amazônicos, gerando com isso certo desenvolvimento para a região. Como Jorge Kalume foi o quem iniciou essa política de re-ocupação da Amazônia no Acre, seu sucessor, Francisco Wanderley Dantas, no cargo entre 1971 a 1975, foi quem de fato implantou um forte programa de governo para fomentar esse projeto. lutou ao lado de Plácido de Castro na guerra do Acre, Wanderlei Dantas era experimentado nos estudos humanistas. Formado em geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi professor da Escola Superior de Guerra e escreveu diversos livros sobre a falência dos seringais. Figura, portanto, perfeita para o cargo e para gerir esse grande projeto ao lado de Jorge Kalume, que lhe garantia fundos do governo federal.
O Acre daqueles tempos ainda dependia muito da falida economia da borracha, que há tempos vivia devido aos subsídios do governo federal. A estratégia de seu governo foi continuar maciçamente com as campanhas publicitárias sobre os incentivos fiscais na região, dando especial atenção, porém, a facilidade de compra de terra para implantação de fazendas de gado.
1970- Desde a década de 70, os seringueiros mudavam-se para a capital do Acre, engrossando o cinturão de miséria. Via-se miséria, tráfico de drogas, prostituição e toda sorte de problemas, enquanto isso, na floresta, o solo era castigado, ficando improdutivo. Os projetos com recursos do exterior se ampliavam.
1972- Corria o ano de 1972 quando os primeiros fazendeiros do centro sul motivados por esses incentivos todos chegaram ao Acre. Tinham adquirido o antigo e vasto seringal Catuaba, uma propriedade gigantesca com mais de 150 mil hectares de terras, localizado no rio Acre logo abaixo da cidade de Rio Branco e margeando, pelos fundos, a recém inaugurada Br-364. A expulsão dos seringueiros se tornou corrente a partir de 1972 e desde então os fazendeiros passaram a ver sua atividade como uma luta, que opunha, por um lado, agentes de um sistema econômico falido e, de outro, arautos da modernidade agropastoril. Mario Junqueira, grande fazendeiro do sudeste, via assim seu trabalho na Amazônia.
O objetivo de implantação de uma economia agropecuária tornou-se posteriormente uma norma comum nos governos acreanos, tanto que Geraldo Mesquita, no cargo entre 1975 e 1979, realizou um grande seminário para discutir essa questão assim que assumiu seu mandato. Esse evento deveria tratar com profundidade esse problema e viabilizar com celeridade a modernização agropecuária na região.
Nomeado como Secretario do Fomento Econômico dessa administração, o professor José Fernandes do Rêgo deu uma pequena palestra nesse seminário, discutindo, dentre outras pautas, o trabalho do seringueiro. Segundo ele esse agente não estava apto a exercer os ofícios ordenados de uma fazenda, porque trabalhava nos momentos que quisesse. O objetivo de sua fala era enfatizar a idéia de que o meio agrícola moderno do Acre deveria impor a esse sujeito a emigração para as cidades.
1976- A partir de 1976 com a instalação da primeira Ajudância da FUNAI do Acre e sul do Amazonas. Começava assim uma longa luta pela demarcação das terras ancestrais dos povos nativos do Acre. Boa parte dessa luta foi empreendida por diversas entidades indigenistas não-governamentais, como a CPI, o COMIN e o CIMI, mas principalmente pelas próprias lideranças indígenas que ao mesmo tempo em que adquiriam consciência de seus direitos passaram a buscar a organização de um movimento indígena politicamente articulado. Surgiram, então, em diversas aldeias as primeiras cooperativas que proporcionaram condições objetivas para que as comunidades se libertassem do domínio dos patrões.
1975- Chegam os primeiros fazendeiros do sul, no mesmo ano, iniciou o processo dos primeiros sindicatos rurais, o seringueiro Chico Mendes foi escolhido secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Basiléia, que acabava de ser fundado. E pôs em ação uma nova estratégia política, que batizou com a palavra "empates".
1979- Chico Mendes reúne lideranças sindicais, populares e religiosas na Câmara Municipal, transformando-a em um grande foro de debates. Acusado de subversão, é submetido a duros interrogatórios. Sem apoio, não consegue registrar a denúncia de tortura que sofrera em dezembro daquele ano.
1980- A economia do Acre no inicio dos anos 80 já era baseada na agropecuária e o governo de Joaquim Falcão Macedo, que geriu o estado entre 1979 a 1983, foi responsável pela ampliação dessa política publica modernizadora. A principal característica de seu governo foi o esquema montado para receber as populações seringueiras que migravam em massa para as cidades do vale do rio Acre, principalmente Rio Branco.
1982- Chico Mendes é candidato a Deputado Estadual pelo PT.
1985- Em outubro de ocorre o Primeiro Encontro Nacional de Seringueiros em Brasília. Desse encontro participaram observadores nacionais e estrangeiros. Índios e seringueiros se unem em busca de propostas. Essa união fortificou o sindicato.
1987- A ONU visitou Xapuri e comprovou a devastação das florestas e a expulsão dos seringueiros financiada por corporações internacionais. Logo depois, Chico recebeu da própria ONU o prêmio Global 500, oferecido a pessoas que se destacam em defesa da ecologia.
1988- Morre Chico Mendes. Em 22 de dezembro de 1988, o líder foi assassinado numa emboscada. Uma onda de violência havia atingido o Acre. Ao longo de 1988 participa da implantação das primeiras reservas extrativistas criadas no Estado do Acre. Ameaçado e perseguido por ações organizadas após a instalação da UDR no Estado, Mendes percorre o Brasil, participando de seminários, palestras e congressos onde denuncia a ação predatória contra a floresta e as violências dos fazendeiros contra os trabalhadores da região. Após a desapropriação do Seringal Cachoeira, em Xapuri, propriedade de Darly Alves da Silva, agravam-se as ameaças de morte contra Chico Mendes que por várias vezes denuncia publicamente os nomes de seus prováveis responsáveis. Deixa claro às autoridades policiais e governamentais que corre risco de vida e que necessita de garantias. No 3º Congresso Nacional da CUT, volta a denunciar sua situação, similar à de vários outros líderes de trabalhadores rurais em todo o país. Atribui a responsabilidade pela violência à UDR. A tese que apresenta em nome do Sindicato de Xapuri, Em Defesa dos Povos da Floresta, é aprovada por aclamação pelos quase seis mil delegados presentes. Ao término do Congresso, Mendes é eleito suplente da direção nacional da CUT. Assumiria também a presidência do Conselho Nacional dos Seringueiros a partir do 2º Encontro Nacional da categoria, marcado para março de 1989, porém não sobreviveu até aquela data.
1989-Em 1989, a Anistia Internacional divulgou relatório que mostrava que 90 pessoas foram assassinadas no estado desde novembro de 1988.
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